segunda-feira, 20 de julho de 2009

Curta



Ventos sopravam em seu cachecol creme, preso em seu chapéu, completando com seu terninho salmão claro. Dirigia seu Simca Chambord 1966, conversível, vermelho com creme. Indo para um lugar nunca visitado... Essa é Silvia, perua com suas pulseiras e brincos, curiosa com suas perguntas e aventuras.
Na mão esquerda segurando seu cigarro com piteira e ouvindo no toca fita do carro Nina Simone - My Baby Just Cares For Me relembrando o seu encontro de amor do passado, indo sem destino ou si quer roteiro, querendo desbravar tudo e todos, só com duas malas D&C e seu óculos Prada.
A caminho de um deserto nordestino brasileiro, ela encontra vários lugares curiosos e pessoas extravagantes no modo de viver, extravagantemente simples. Como um rifão ela encontra dona Chica, uma senhora pobre moradora do brejo, possuindo uma casa de barro e um cachorro, sem filhos, sem marido e visinhos, Silvia desce do carro com um sapato alto e fino arrastando a terra com o pé esquerdo para apoiar a sua descida. Cumprimentou dona Chica e fez um mine questionário. Dona Chica uma senhora de 91 anos, com muitas dores nas costas e saudosista, morando a 10 anos sozinha e se divertindo ao mesmo tempo encantando Silvia, cantando musicas de Salvador, a sua terra natal,
“ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ
ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ”
Silvia entra no carro com os olhos molhados e com gostinho de cafezinho na boca, depois de ter sentado e esperado dona Chica fazê-lo no seu fogãozinho a lenha.
Chegou a sua primeira cidade, parando seu carro debaixo de uma única e grande árvore que era enfrente de um conjunto de casas, uma branca com varanda, outra verde clara, uma laranja com portão marrom, crianças brincando no balanço feito com pneu de carro e corda pendurada nessa grande árvore. Começa a conversar com seu Pereira um senhor de 75 anos, que estava sentado na sua cadeira de balanço, feita de canudo azul e ferro. Conversaram sobre as rinjas e mortes que houveram entre as famílias poderosas do povoado. Silvia poderia ser uma perua, mas sabia muito bem se relacionar com quaisquer caracteres.
Procurou a única pousada que a indicaram para tomar um banho, depois de ficar meia hora enfrente de seu Pereira ouvindo as histórias dele contada com pausas para inalar seu cigarro de rolo.
A noite descobre que terá uma festa da santa da cidade, nossa senhora dos poderes eterno, uma multidão, que juntou todos os povoados vizinhos... Muitas velas, cantos, sinos, rezas, choros, pessoas de joelhos, pernas de cera, fitas de desejos, figas, um contraste que Silvia nunca tinha questionado em viver.
De manhã cedo pegou seu Simca Chambord e voltou para a capital do estado e prometeu que iria voltar, não por ter que viver para aprender, mas sim... Aprender para viver.

Um comentário:

  1. E enquanto os dias se passam, Silvia em seu Chambord desbrava o certão sertão em busca quem sabe de nada.
    Mas Silvia, perua inteligente e marcada pela busca inconstante da felicidade alheia, não desfruta neste primeiro momento de suas descobertas.
    Guarda todas elas em sua mente fertil e sã.
    Decide ir mais longe um pouco e no sol escaldante do brejo, onde agora ela se encontra, nao desata o seu cachecol creme do fino pescoço abrilhantado de correntes, e nem apaga o "charm" de sua piteira.
    Silvia encontra em vilarejo sobrio no descampado terreno ao sol, o Sr. Durval.
    Mestre em sinuca, nao dá ponto sem nó nem sinuca sem bico. Seu Durval espantado com a beleza de Silvia, calado, soluça e não dá uma palavra. Observa.
    Silvia, abismada com toda a cena resplandescente aos seus olhares sórdidos da capital, fotografa frame a frame a narrativa imagética à sua frente.
    - Sr. Durval, como pode o ser humano privar-se das regalias tão explicitas ao nosso fetiche?
    - Repita.
    - Como pode o sr. viver aqui?
    - Vivo comigo neste castelo que construí, pra me guardar de todo o mal. Vivo do que fiz e do que sou nesse mundão esquecido por todos. Não quero as minhas lembraças de quando a chuva findou-se... quero me deitar e ouvir, baixinho a chuva cair de fininho. Mesmo que ela não venha.
    Mas se um dia chegar, não deixo passar. Nao perco oportunidade de ve-la de novo.
    - Ow Seu Durval, procuro nesse muindo, que eu nao esqueci, fundamentos, pra tudo o que vivo. Não quero choro nem vela, so mais sete mil léguas pra eu descansar, e ver o quanto precisamos desse chão rachado , sem água e veia.
    - Dona Silvia, né?
    - É sim.
    - A sra. me desculpe, mas num leve a mal não. Preciso entrar e passar o café, minha mulé já chega do roçado. A sra entra comigo?
    - Eu? Agora? (e Silvia desprevinida, despercebida, e acanhada aceita o convite, e vive mais uma outra história, a bordo de seu Chambord.
    Oh my baby, just care for me.

    ResponderExcluir