
Ventos sopravam em seu cachecol creme, preso em seu chapéu, completando com seu terninho salmão claro. Dirigia seu Simca Chambord 1966, conversível, vermelho com creme. Indo para um lugar nunca visitado... Essa é Silvia, perua com suas pulseiras e brincos, curiosa com suas perguntas e aventuras.
Na mão esquerda segurando seu cigarro com piteira e ouvindo no toca fita do carro Nina Simone - My Baby Just Cares For Me relembrando o seu encontro de amor do passado, indo sem destino ou si quer roteiro, querendo desbravar tudo e todos, só com duas malas D&C e seu óculos Prada.
A caminho de um deserto nordestino brasileiro, ela encontra vários lugares curiosos e pessoas extravagantes no modo de viver, extravagantemente simples. Como um rifão ela encontra dona Chica, uma senhora pobre moradora do brejo, possuindo uma casa de barro e um cachorro, sem filhos, sem marido e visinhos, Silvia desce do carro com um sapato alto e fino arrastando a terra com o pé esquerdo para apoiar a sua descida. Cumprimentou dona Chica e fez um mine questionário. Dona Chica uma senhora de 91 anos, com muitas dores nas costas e saudosista, morando a 10 anos sozinha e se divertindo ao mesmo tempo encantando Silvia, cantando musicas de Salvador, a sua terra natal,
“ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ
ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ, AXÉ ODÔ”
Silvia entra no carro com os olhos molhados e com gostinho de cafezinho na boca, depois de ter sentado e esperado dona Chica fazê-lo no seu fogãozinho a lenha.
Chegou a sua primeira cidade, parando seu carro debaixo de uma única e grande árvore que era enfrente de um conjunto de casas, uma branca com varanda, outra verde clara, uma laranja com portão marrom, crianças brincando no balanço feito com pneu de carro e corda pendurada nessa grande árvore. Começa a conversar com seu Pereira um senhor de 75 anos, que estava sentado na sua cadeira de balanço, feita de canudo azul e ferro. Conversaram sobre as rinjas e mortes que houveram entre as famílias poderosas do povoado. Silvia poderia ser uma perua, mas sabia muito bem se relacionar com quaisquer caracteres.
Procurou a única pousada que a indicaram para tomar um banho, depois de ficar meia hora enfrente de seu Pereira ouvindo as histórias dele contada com pausas para inalar seu cigarro de rolo.
A noite descobre que terá uma festa da santa da cidade, nossa senhora dos poderes eterno, uma multidão, que juntou todos os povoados vizinhos... Muitas velas, cantos, sinos, rezas, choros, pessoas de joelhos, pernas de cera, fitas de desejos, figas, um contraste que Silvia nunca tinha questionado em viver.
De manhã cedo pegou seu Simca Chambord e voltou para a capital do estado e prometeu que iria voltar, não por ter que viver para aprender, mas sim... Aprender para viver.