
A música que tocava, era um estímulo para Laura L. Sentada no banco da frente do carro, olhava a chuva cair. Mexia-se conforme os movimentos precisos do carro, ela via essa cena, ela pensava nessa cena. Com o cigarro na mão, viajava em seus pensamentos, seus pensamentos loucos, embora sem erros. Sentia gargalhadas e conversas, mas não tirava o seu olhar dos pingos d’água que caiam no pára-brisa.
Laura observava seus movimentos, sua mão delicada com o cigarro indo para boca carnuda e vermelha até retornar as suas coxas brancas e aveludadas, via a fumaça que soltava lentamente, até parecia que queria seduzir alguém, com tanta sensualidade. Pegava-se às vezes observando à fina fumaça que saia do seu cigarro e o seu olhar negro no retrovisor embaçado.
Olhou para o lado e viu as pessoas conversando, mas não os conseguia ouvir, nenhuma voz atravessava o seu raciocínio.
Por fim a música parou, ela olhou para o “toca-fitas”, com uma expressão de decepção... tudo voltou, às vozes, as buzinas, as gargalhadas, sentiu os pingos antes não percebidos tocando na sua pele, ela por sua vez, colocou o seu rosto belo para fora e sentiu as gotas miúdas e espaçadas de chuva, ainda falou baixinho com sua voz doce e gentil... “quero viver nesse pensamento observador, sem crueldade, coloca de novo essa música e me faz ser feliz...”